O Problema do Descarte de Medicamentos

O uso de remédios pela humanidade para aliviar e curar sintomas de dores e doenças não é uma novidade, muito pelo contrário. Desde os primórdios buscamos, especialmente na natureza, por substâncias e misturas que nos auxiliem nesses objetivos.

Hoje a indústria farmacêutica é uma das maiores e mais poderosas do mundo, movimentando cifras bilionárias anualmente. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em 2016 o setor faturou R$63,5 bilhões apenas no Brasil. E essas cifras estão relacionadas apenas ao consumo, havendo também pesados investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos.

Há atualmente uma imensa oferta de remédios que chegam às farmácias, procurando atender aos mais diferentes fins estimulando seu consumo.

Sim! Vivemos em uma sociedade medicada. A consequência ao nosso corpo e saúde? Ainda não sabemos com precisão, porém os estudos sobre a questão apontam para pistas nada animadoras.

Esse cenário não traz apenas consequências para nós. O meio ambiente também vem sofrendo.

A produção de resíduos e o meio ambiente

Quando falamos em preservar o meio ambiente o descarte de resíduos é um dos temas fundamentais.

A sociedade de consumo estabelecida no decorrer do século XX levou a uma produção de lixo como nunca antes visto. Especialmente porque, também, nunca vivemos tanto tempo e fomos tantos.

Anualmente são produzidas cerca de 1,3 bilhões de toneladas de lixo no mundo e, segundo estimativa do Programa da ONU Para o Meio Ambiente, este número deve chegar a 2,2 bilhões de toneladas anuais até 2025.

O lixo contamina o solo e a água, interferindo na fauna e flora e contribuindo para a proliferação de doenças em humanos e animais.

A questão do descarte de resíduos é urgente e merece a atenção de toda a sociedade. É muito importante que cada pessoa faça sua parte enquanto o poder público aprimora a rede de coletas e sua efetividade.

Se o lixo comum já merece cuidados, o que falar então do descarte de medicamentos?

Infelizmente muitas pessoas não conhecem os riscos socioambientais decorrentes de jogar fora medicamentos usados ou vencidos de forma incorreta.

Os riscos do descarte de medicamentos incorreto

Ainda não conhecemos todos os danos que os fármacos descartados na natureza são capazes de causar ao meio ambiente. O que sabemos é que apresentam riscos à água, solo, fauna, animais e a própria saúde humana.

Vale reforçar que no Brasil, de acordo com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Unicamp, em Campinas (SP), que é referência no Brasil, cerca de 33,62% dos casos de intoxicação ocorrem devido a medicamentos.

Além da insistência na automedicação, o descarte incorreto dos produtos farmacêuticos contribui para esse quadro.

Quando esses remédios chegam aos lixões e aterros sanitários, lá eles se deparam com um grande número de pessoas que sobrevivem do lixo. Os catadores, aliás, são peças fundamentais na construção de uma sociedade mais sustentável, sendo os grandes promotores da reciclagem no país.

Quando essas pessoas, que geralmente vivem em situação de vulnerabilidade social, encontram medicamentos em meio ao lixo, por diversos motivos acabamos consumindo mesmo sem conhecer seus efeitos sobre o corpo ou respeitando sua validade.

Quando não são recolhidos, os medicamentos que vão para os aterros podem acabar em contato direto com o solo, liberando micropoluentes. Nesses casos, além de contaminação da superfície, esses micropoluentes chegam aos lençóis freáticos, especialmente quando não há impermeabilização adequada no local de descarte. A água, diga-se, é um dos principais recursos afetados pelo descarte inadequado.

Além da situação citada acima, infelizmente é muito comum que os remédios sejam descartados via vaso sanitário. Nesses casos eles chegam diretamente aos afluentes através da rede de esgoto.

É muito importante lembrar que os atuais sistemas de tratamento de água não são capazes de eliminar todas as substâncias relacionadas aos fármacos. Embora atualmente existam técnicas de filtração para essas substâncias, seus elevados custos de implementação as tornam inviáveis.

No Brasil ainda há um outro grande problema: segundo dados de 2017 do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento, apenas 50,3% das residências têm acesso à coleta de esgoto. De forma que mesmo com o aprimoramento das estações de tratamento esse ainda seria um problema grave.

Pesquisa da companhia Brasil Health Services (BHS) de 2010, apontou que apenas 1 kg de medicamento é suficiente para contaminar 450 mil litros de água!

Á água contaminada põe em risco a saúde de seres humanos, animais e mesmo a fauna e flora de regiões inteiras. Sendo assim, os riscos ambientais causados pelo descarte incorreto de medicamentos é uma realidade que não pode ser ignorada!

Fazendo o correto

Se você nos acompanhou até aqui, deve estar pensando: “Mas, então como descartar meus remédios?”.

Essa é uma dúvida muito comum, o que reforça a necessidade de realização de mais campanhas de conscientização.

Pesquisa realizada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) concluiu que cerca de 20% dos remédios são descartados de forma irregular e inadequada.

A Lei nº 12.305 sancionada em 2010 criou o Programa Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Neste programa estão todas as diretrizes e regras relacionadas ao descarte de resíduos sólidos, válidas em todo território brasileiro. Entre as diversas situações previstas, lá está o descarte de medicamentos.

Segundo a legislação, os remédios devem obedecer à chamada logística reversa, sendo responsabilidade dos fabricantes a sua correta eliminação.

O determinado pela lei é que farmácias e drogarias funcionam como postos de coleta dos medicamentos vencidos. A estes seriam então destinados os fins mais adequados e com menores riscos de um impacto socioambiental negativo.

Por isso, no momento de fazer aquela limpeza em sua farmácia doméstica, procure um destes locais de coleta e faça o descarte adequado.

E as embalagens?

Um ponto muito importante quando falamos de descarte de medicamentos diz respeito às embalagens.

As embalagens chamadas de secundárias, como bulas e caixas, normalmente não entram em contato com os remédios e por isso podem ser descartadas no lixo reciclável comum.

Já as embalagens primárias, como frascos, cartelas, tubos, etc.. devem sempre ser descartadas nos postos de coleta especializados.

O contato destas com os medicamentos fazem com que mesmo vazias contenham traços das substâncias. Esses traços são o suficiente para causar contaminação no meio ambiente se unindo aos demais micropoluentes.

Cada um fazendo sua parte, contribuímos com a solução

Os remédios quando bem utilizados são, sem dúvida, grandes aliados da nossa saúde e qualidade de vida. Mas, para um futuro sustentável é fundamental que cada um faça sua parte.

Evite a compra excessiva e desnecessária de medicamentos, diminuindo a sua produção de resíduos. E, caso tenha medicamentos vencidos em sua casa, ou mesmo embalagens primárias vazias, procure os postos de coleta mais próximos de você.

Com a união e comprometimento de todos iremos construir um futuro mais saudável.

Gostou desse artigo? Continue nos acompanhando e tenha acesso a mais informações sobre sustentabilidade e meio ambiente.

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